Ética na comunicação: Até onde o jornalista pode ir para cumprir uma pauta?

ARTIGO


Ética na comunicação: Até onde o jornalista pode ir para cumprir uma pauta?

GURTAT, Alexandre


RESUMO: Este artigo apresenta uma linha de pensamento buscando compreender até onde o jornalista pode e deve ir para fazer cumprir uma pauta ou reportagem. Observando posicionamentos de jornalistas em âmbito nacional e também regional, é exposto relatos e fatos de como chegar dentro de uma linha segura para a construção de conteúdo midiático. A ética jornalística se faz muitas vezes do bom senso, e juntamente com o código de ética da profissão norteiam o circulo de construção de pautas e execução de reportagens. Levar notícias ao grande público é fazer uma analise ética dos fatos e dados apontados no evento.

PALAVRAS-CHAVE: Ética Jornalística, Comunicação, Webjornalismo

1. INTRODUÇÃO

Na guerra pela audiência, ir além do comum é o básico para uma grande reportagem. Buscando sempre o ineditismo o jornalista não deve ultrapassar o limite ético para cumprir uma pauta. Este artigo tem como problematização encontrar o limite jornalístico para a captação de informações durante a construção do conteúdo midiático.
Para Barros Filho (1995), como qualquer controle social existente, as regras do dever-ser jornalístico vão, além de aperfeiçoar a oferta informativa, mas evitar conseqüências indesejáveis. Estabelecer regras éticas para situações de âmbito tão delicadas é ter conhecimento do bom senso. Saber usar estes limites é de fundamental importância para todos os jornalistas que buscam construir grandes reportagens. A pergunta “Até onde um jornalista pode chegar para cumprir uma reportagem?”, que se faz presente, na maioria das vezes no jornalismo investigativo, vem ganhando cada vez mais destaque na própria mídia, visto que profissionais da comunicação se infiltram cada vez mais em busca da notícia.
Com o objetivo de delinear pontos entre o limite jornalístico para a captação de informações e saber usar a ética da comunicação para se fazer cumprir uma pauta, este artigo faz uma analise bibliográfica e também entrevistas com jornalistas.


2. DESENVOLVIMENTO


Tradicionalmente conhecida como um estudo ou reflexão, científica ou filosófica, dos costumes ou ações do homem, a ética pode ser a própria realização de um tipo de comportamento (VALLS, 2003). “Os costumes mudam e o que ontem era considerado errado hoje pode ser aceito” (VALLS, 2003, p.10), com a evolução na sociedade além da ética o jornalismo também vem evoluindo.
Transpor notícias ao grande público, exige mais do que uma simples apuração dos fatos jornalísticos, uma analise ética do conteúdo a ser levado aos leitores deve ser feita enquanto a matéria é construída, fazendo com que erros de apuração e de investigação não criem julgamentos prévios sobre os personagens e o enredo construído.
Como o aprimoramento compreende erros, o jornalismo brasileiro acumulou diversos deslizes neste período. Não é demais lembrar do caso da Escola Base em São Paulo, da denúncia equivocada de superfaturamento na compra de bicicletas para os agentes de saúde, acusando o ministro Alceni Guerra, da edição desequilibrada do debate televisivo Lula x Collor em 1989, entre outros exemplos. Jornalistas e meios de comunicação erraram, deixando vítimas por toda a parte. (CHRISTOFOLETTI, 2008, p.14)


Para evitar erros e obter um melhor desempenho na construção de grandes reportagens o jornalista necessita de uma boa pauta, que tem no seu processo de produção, uma boa apuração previa dos fatos e também uma delimitação de riscos e consequências a serem vivenciados pelo jornalista de campo.
O limite para o jornalista chegar à construção de uma pauta é para muitos especialistas o próprio bom senso. Diversos casos de jornalistas que ultrapassaram o limite ético jornalístico, vieram ao grande público nos últimos anos por não estar claro, até onde é o papel de imprensa e quando este limite termina.
Alguns casos podem trazer a reflexão sobre o assunto. Como o ocorrido mês passado com Roberto Cabrini. O jornalista foi encontrado na periferia da zona sul de São Paulo, no dia 15/04, com 10 papelotes de cocaína. A polícia o deteve por tráfico de drogas e porte de entorpecentes. Cabrini afirmou que a droga foi "plantada" em seu carro, fazendo parte de uma armação, e que fazia uma reportagem investigativa sobre tráfico de drogas. A mesma versão foi dada pela rede Record, emissora em que trabalha. No dia 17/04, a Justiça de São Paulo concedeu habeas corpus ao jornalista. (Portal Comunique-se 09/05/2008)

O jornalista da Folha de São Paulo, Clovis Rossi, expõe sua opinião sobre a linha de até onde o profissional da impressa pode ir de forma clara “O jornalista deve ir até onde não violar princípios éticos”. Assim como Rossi, jornalistas da região Oeste do Paraná, fazem uma analise do limite ético para a construção de uma reportagem, Juliana Cancian coloca que “O jornalista deve ter limites próprios e também do código de ética da profissão. Espetacularizar, sensacionalizar, exagerar, expor crueldades humanas, expor situações de dor, de conflito, simplesmente para aumentar os índices de audiência, é transformar comunicação num verdadeiro show, o que não é correto”.
Doutor em comunicação, Silvio Demétrio, compartilha da mesma opinião, onde o limite para o jornalista é a própria ética. “Existe um limite que é a própria ética, questão de ética de limite. O que é mais ou menos tido como seguro e certo numa prática e aonde além daquilo você pode até ter uma boa intenção, você que tem que garantir o seu resultado, preservar a identidade do seu trabalho com um bom jornalismo. É nesse sentido que você tem que observar, nesses limites. E tem coisas nas quais o jornalista não pode avançar, principalmente em relação ao direito privado de cada um”.
Usar da ética no jornalismo é passar por diversos momentos, de edição e de finalização com o público, escolher se a foto de um acusado sai na capa ou não, é recorrer não apenas à consciência do jornalista, mas também às regras que norteiam o convívio na sociedade.


3. CONCLUSÃO


Estar disposto a cumprir uma pauta é saber olhar a ética jornalística e também a ética social, para se construir uma reportagem e também para buscar informações durante a construção da mesma.
Pensando em evitar conseqüências indesejáveis e ao mesmo tempo obter informações exclusivas e de grande importância, usar-se do bom senso e do código de ética do jornalismo são essenciais. Ir além dos limites éticos, impostos pela sociedade é ir além dos limites do jornalismo.
Assim podemos compreender que o limite ético do jornalista é a própria ética, e não ultrapassando este limite, estaremos seguros na linha da construção de grandes reportagens.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARROS Filho, Clóvis. Ética na Comunicação. São Paulo: Editora Moderna, 1995.
CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2003.

WEB: Portal Comunique-se http://www.comuniquese.com.br/conteudo/newsshow.asp?menu=JI&idnot=44002&editoria=8 acessado em 14/10/2010 as 09:25

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